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* Dra Aparecida Mari Iguti - Professora colaboradora do Departamento de Saúde Coletiva Faculdade de Ciências Médicas - Unicamp
No final da década de 1980 e nos anos 1990, Dra. Leda Leal Ferreira e eu estivemos realizando uma série de estudos juntos aos petroleiros do Estado de São Paulo a pedido do Ministério Público do Trabalho/Meio Ambiente. Estes estudos estavam focados na reestruturação produtiva, na redução de efetivos e na segurança das unidades de produção.
Pudemos acompanhar várias atividades desenvolvidas pelos operadores no refino e transferência de produtos. Tivemos a possibilidade de conhecer o sistema analógico de controle de processos e depois a implantação de sistemas de controle digital, com a ‘fusão’ e alterações organizacionais, e, assim, conhecer o funcionamento da produção e várias situações de risco de acidentes e doenças do trabalho, embora estes não fossem os objetos primeiros de nossos estudos. Foi a reestruturação produtiva que facilitou a mudança organizacional, com a grande redução de efetivos.
Também entramos em contato com vários petroleiros que por acreditar em seu trabalho, tornaram-se atores na luta por melhores condições de trabalho e saúde. Este foi o caso de Waldomiro de Souza Pereira Filho, conhecido por Miro, que foi operador na Refinaria Presidente Bernardes de Cubatão (RPBC) e sindicalista.
Miro trabalhou como operador na Estação de Tratamento de Despejos Industriais, no Setor de Utilidades e no Setor de Transferência e Estocagem, deslocamentos relacionados às reestruturações da refinaria, como foi o caso de diversos trabalhadores. Relembro que as siglas mudaram diversas vezes, e então os termos referem-se às grandes áreas de atividade da refinaria.
Miro sempre esteve preocupado com questões de saúde dos companheiros, entre elas, os problemas relacionados à exposição ao benzeno, onde uma das evidências é a leucopenia; a Petrobrás sempre minimizou as questões dos efeitos da exposição aos hidrocarbonetos aromáticos.
Ressalte-se a sua morte prematura, aos 57 anos de idade, caso de muitos petroleiros, cuja causa se diz tratar-se de doenças “comuns” da população geral.
Assim, homenageamos o Miro, considerando-o um símbolo de luta e engajamento pela saúde dos petroleiros. Que sua luta possa servir como fonte de inspiração para os petroleiros que ainda estão no trabalho, sejam os novos ou os ‘antigos’, que possam, ao longo dos últimos tempos, ter perdido um pouco da esperança no enfrentamento coletivo por melhores condições de trabalho.
É a luta coletiva que conquista direitos, como condições de trabalho dignas e seguras.