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Redação ABCP
O debate do segundo turno realizado pela Rede Globo entre os dois candidatos ao Governo do Estado de São Paulo, na noite de ontem, 27, expôs a cisão estrutural do Brasil desde sua fundação imperial.
Traduzida para os dias atuais, essa divisão política situou, de um lado, a gélida tecnocracia de extrema direita, pela boca de um ex-ministro bolsonarista embasado em dados eficientemente decorados; e, de outro, as vertentes de centro-esquerda, na voz de um dos melhores quadros da intelectualidade paulista e militante, tão experiente quanto indignado, com expressivo engajamento emocional no discurso.
Natural do Rio de Janeiro, Tarcísio de Freitas (Republicanos), simulando firmeza numa tecnicalidade obscura e suspeita, esbanjou cinismo ressabiado. Seu calcanhar de Aquiles estava exposto: a recente morte de um civil inocente durante sua campanha eleitoral em Paraisópolis, periferia sul de São Paulo – tudo sob o desfile educado e aparentemente competente de vários itens de infraestrutura.
Paulistano nato, Fernando Haddad (Partido dos Trabalhadores), com transparência até mesmo involuntária, se manteve dominante, no verbo, nos gestos, no ambiente e nos tempos, com argumentos certeiros e ironia desconcertante.
Ex-prefeito da cidade de São Paulo, Haddad fez, sem dúvida, um dos melhores debates de sua trajetória política. Lavou a alma contra o neofascismo em São Paulo e no Brasil, possibilitando a todo eleitorado progressista viver o mesmo.
Um momento especial, no terceiro bloco, definiu o confronto por knockout. Haddad explorou fortemente o trágico e escabroso caso de Paraisópolis e desequilibrou o adversário, acuando-o. Depois disso, o representante do bolsonarismo nacional, constrangido, gaguejou várias vezes. Não seria mais o mesmo até a entrevista pós-debate.
A noite luminosa em que Haddad empacotou o adversário carioca estava assim terminada, sob o aplauso de milhões de eleitores em torno das telas até altas horas e com a esperança de virada nas urnas três dias depois.
São Paulo, 28 de outubro de 2022
Por Professor Eugênio Trivinho