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Valdir Lopes*
Por que escondem da sociedade brasileira que a Petrobrás tem capacidade de processar qualquer tipo de petróleo e abastecer, inclusive, o mercado nacional com diesel? Por que não falam para a sociedade brasileira que estão desmantelando o nosso parque de refino, colocando à venda importantes refinarias, como a de Lubrificantes e Derivados do Nordeste (Lubnor), em Fortaleza (CE); a de Mataripe (Rlam), em São Francisco do Conde, na Bahia; e de Manaus (Reman), que fica na capital amazonense?
Falar da Petrobrás é estar diante de dois “mundos”. Nos interessa falar do real, e não do falso. Desde a sua concepção, ainda na década de 1940, a petrolífera brasileira é atacada. Por quê? Porque um país da periferia do capitalismo nunca poderia pensar em ser autossuficiente energeticamente, pois na geopolítica do capital nosso papel deve ser o de servir, o de entregar o que é nosso para os outros ganharem vultosos lucros – no caso, o petróleo.
A Petrobrás nunca deixou faltar combustível petrolífero, seja diesel ou gasolina, porque sempre gerenciou o abastecimento nacional com muita competência. Quando surgiu a necessidade de novas refinarias, na década de 1990, o governo à época nada fez, preferiu investir na política privatizante, quebrando o monopólio e até tentou mudar o nome da empresa para PetroBrax.
Temos a autossuficiência em petróleo. As nossas refinarias foram construídas para processar óleo leve e gasolina, o combustível que mais consumíamos. Com a inversão para o diesel, nosso parque de refino foi reconfigurado. Aí veio o etanol anidro (álcool automotivo) na gasolina, hoje 27%. Depois vieram os carros a álcool 100 % e depois os carros flex. E o diesel sempre crescendo.
Com o petróleo da Bacia de Campos (RJ), obtivemos a autossuficiência volumétrica, mas continuamos a importar e exportar petróleo cru e derivados e com a gestão integrada do abastecimento nacional nunca houve problemas. A Petrobrás adquiriu experiência técnica e gerencial extraordinárias neste campo comercial, com escritórios no exterior para assegurar compra e venda no mercado mundial, com abastecimento garantido e vantagens comerciais para a empresa.
Na primeira década dos anos 2000, descobrimos os imensos volumes de petróleo leve/mediano do pré-sal, riquíssimo em gás natural e mais uma vez teríamos que manter um gerenciamento integrado do abastecimento nacional. Mas, a partir de 2016, a Petrobrás foi transformada num fundo de investimento sob controle da NYSE (Bolsa de Nova York, EUA). As gestões nomeadas pelo governo que assumiu o poder naquele ano abandonaram a responsabilidade pelo abastecimento nacional, e o mercado interno foi escancarado para o mercado financeiro transnacional – esta é a razão da prática do Preço de Paridade de Importação (PPI), condição imprescindível para o capital financeiro vir para o setor de óleo e gás brasileiro.
Sem a gestão integrada de abastecimento nacional sobreveio o caos que enfrentamos agora, mesmo com mais de 200 importadores privados de combustíveis estabelecidos. E confirma que é impraticável e irresponsável, para com os interesses nacionais de um país continental como o Brasil, a regulação pelo mercado sobre um assunto de segurança nacional.
O setor de óleo e gás brasileiro – com as imensas reservas do pré-sal, descobertas decorrentes da competência e desenvolvimento tecnológico da Petrobrás e da universidade brasileira, com dinheiro do povo brasileiro – transformou-se num conjunto de empresas saqueadoras do Brasil.
No século XXI, eis que a Petrobrás se mostrou gigante mais uma vez! Com a competência em ciência e tecnologia em petróleo – construída autônoma e soberanamente pela Petrobrás, com brasileiros da própria junto à universidade brasileira –, descobrimos o pré-sal! Pouca coisa? Não, muita! E o que vimos? Um novo ataque. Sem dó nem piedade.
As “águias” estrangeiras do petróleo não podiam aguentar ver um país da periferia do capitalismo, mais uma vez, superar o "calcanhar de Aquiles " para a construção da nossa soberania. O pré-sal nos dá, com baixo custo, o insumo garantido pelas próximas três ou quatro décadas.
Tal descoberta, associada à criação do Brics – associação de Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul – abriu, finalmente, à nossa gigantesca e riquíssima nação o caminho para ocupar o lugar que o Brasil faz jus no palco geopolítico global. Mas este fato não foi tolerado pelo poder do capital financeiro transnacional, representado pelos governos de seus países-sede, por isso a Petrobrás é diariamente atacada de forma vil.
Vendemos o nosso patrimônio para ficar nas mãos das estrangeiras? Para comprar diesel e outros combustíveis de refinarias dos Estados Unidos, da Índia, dos Emirados Árabes?
Quem vende a Petrobrás, vende a soberania do Brasil e o povo brasileiro!
*Petroleiro aposentado do Terminal da Alemoa da Petrobrás