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Redação ABCP
Com informações do site da FUP
Os petroleiros do Brasil estão de luto. No dia 26 de maio último, perdemos um dos grandes petroleiros que ajudou a fazer a história de luta da categoria ainda no período da ditadura empresarial-militar de 1964. Jacó Bittar faleceu aos 81 anos de idade em decorrência do mal de Parkinson, doença que já o acometia há alguns anos.
Como lembra Rivaldo Ramos, da ABCP e petroleiro aposentado, na primeira greve da categoria, ainda no regime militar, em 1978, conseguimos parar a categoria de forma organizada e com muita unidade. “Como Cubatão era considerada a base mais antiga e organizada, combinou-se que parando aqui, Campinas seguiria de imediato a paralisação. E foi o que aconteceu”, recorda, destacando o papel de Jacó Bittar neste momento.
Ramos acrescenta que com a greve de 1978 foi fechado “o primeiro acordo coletivo do regime militar, onde conquistamos recuperação salarial para todos os níveis e ainda o aumento da gratificação de férias para um salário bruto. Neste momento, consolidava-se a união dos petroleiros, como os de Santos e Campinas”.
Por isso, Rivaldo Ramos rende homenagem ao “nosso querido Jacó Bittar, saudade, e que as novas gerações realmente conheçam a história da categoria e se inspirem nos grandes e bons exemplos de companheiros como Jacó Bittar”.
Mauricio Ramos Antoniette de Moura, petroleiro aposentado do Sindipetro-LP e da ABCP, também faz questão de homenagear Jacó Bittar: “Jacó Bittar, o famoso “Turco”, deixou boas lembranças como companheiro de muitas Lutas, sindicalista de muitos trabalhos. Os que lutam permanecem nos nossos corações e mentes. As greves, as reuniões que duravam a noite toda, quanta saudade. Na greve de 1983, a diretoria da Petrobrás, truculenta, demitiu muitos companheiros. E foi aberto um bar, para ajudar aos companheiros demitidos, chamado “Resistência”, em Paulínia. Hoje, nossa amada Petrobrás está se esvaindo pelo ralo e cadê a resistência? O que o canalhas, abutres, as hienas estão fazendo com o nosso País? Cadê os filhos teus que não fogem à luta? Que tristeza, Turco! Os lutadores estão indo para outro plano. No nosso tempo, não havia tempo para sentir medo. Jacó Bittar presente!”
A petroleira aposentada Maria Helena Mesquita também falou sobre a perda do companheiro: “O grande Jacó Bittar faleceu. Entrou na Petrobras em 1962 e liderou a greve em 1983, cuja resistência foi Mataripe (BA), Campinas e RPBC.”
A história de um lutador do povo
Nascido no dia 12 de outubro de 1940, em Maduri, no interior de São Paulo, Jacó é filho de pai sírio, Athanásio Bittar, e mãe brasileira, Jacy Rodrigues Guilherme Bittar. Com o falecimento do pai, em 1950, mudou-se para Santos (SP), onde cursou o primário e, posteriormente, o curso industrial básico, formando-se em operador de máquinas operatrizes.
Na cidade, jogou e assistiu a muitos jogos de futebol. Apesar de ser torcedor do Palmeiras, frequentou muitas vezes a Vila Belmiro para ver o Santos de Pelé, Coutinho, Pepe e companhia. O seu ídolo, porém, era o palmeirense Mazzola.
Em 1957, aos 17 anos, Jacó ingressou nas Docas e permaneceu por cinco anos, de aprendiz a ajustador. Saiu em 1962, após passar no concurso da Petrobrás.
Na estatal, tornou-se operador na Fábrica de Fertilizantes, no setor de ácido nítrico, em Cubatão (SP). Em 1971, com a privatização da unidade, Jacó tinha a opção de se transferir para a Refinaria Presidente Bernardes (RPBC), que ficava ao lado da fábrica na qual trabalhava, ou para a Refinaria de Paulínia (Replan), que seria inaugurada.
Vida sindical
Decidiu se mudar do litoral para o interior paulista, onde fundou e se tornou o primeiro presidente do Sindicato de Petroleiros de Paulínia, com sede na cidade de Campinas (SP), em 1973. Sua primeira batalha foi pela equiparação do valor-hora, já que percebeu a existência de uma diferença salarial entre os trabalhadores da RPBC e da Replan.
O sindicato, naquele período de plena ditadura militar, era extremamente vinculado à Petrobrás – a fundação da entidade, por exemplo, ocorreu dentro da refinaria. Mas com o passar dos anos, Jacó e outros militantes foram peças fundamentais para o surgimento de um novo sindicalismo, que conquistou autonomia e fez eclodir uma das maiores greves da categoria.
Bacelar lembra aquele momento: “A histórica greve de 1983, ainda na ditadura civil militar, abriu caminhos para a greve geral que ocorreu no país em 1985, e o Jacó foi uma das grandes lideranças dessa greve. Além disso, o processo que ele implementou de fundação do Sindicato dos Petroleiros de Paulínia foi um processo que na época significou uma retomada do movimento sindical das mãos dos pelegos e dos diversos interventores militares”.
Em 1983, foi uma das lideranças da paralisação dos petroleiros da Replan. Além de estabilidade no emprego, os trabalhadores estavam em consonância com o chamado para a greve geral do sindicalismo brasileiro. A reação da Petrobrás, entretanto, foi implacável: 153 trabalhadores foram demitidos apenas na Replan, incluindo Jacó.
Com isso, ajudou a fundar a Central Única dos Trabalhadores (CUT), também em 1983, entidade na qual se tornou o primeiro secretário de Relações Internacionais.