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Redação ABCP
No esforço de levar boa informação, a ABCP entrevistou o médico infectologista Marcos Caseiro, também professor e pesquisador e profissional da rede de saúde do Estado de São Paulo. Ele esclarece dúvidas e mostra o que é desinformação sobre a vacina contra a Covid-19. O médico faz um apelo: “O que vai nos proteger e fazer com que voltemos à normalidade é a vacina. Precisamos de 80% da população vacinada para estarmos mais seguros.”
Hoje, o Brasil chega ao triste número de, em menos de um ano, mais de meio milhão de mortes. Apesar da gravidade da situação, ainda não temos uma campanha nacional de vacinação efetiva, rápida e para toda a população porque não temos vacina. Literalmente, corremos contra o tempo e o vírus, que não para de causar vítimas e mortes.
Professor, vivemos duas pandemias, se é que podemos falar assim: uma do próprio coronavírus, causador da Covid-19; e a outra da desinformação, do negacionismo. Como médico infectologista, pesquisador e professor, o senhor pode nos responder uma pergunta básica: por que todos precisamos nos vacinar contra a Covid-19?
Marcos Caseiro – As vacinas são, juntamente com o saneamento básico e a água encanada, por exemplo, um dos maiores avanços em termos de saúde pública, que melhoram as condições e expectativa de vida. As vacinas são praticamente responsáveis por erradicar duas doenças da Terra, a varíola e a poliomielite [paralisia infantil]. Outras doenças, como sarampo, catapora, rubéola, praticamente acabaram e são controladas com as campanhas de vacinação.
No caso da Covid-19 não é diferente. Na medida que não temos um medicamento antiviral no momento, só a vacina consegue nos proteger e evita a disseminação do vírus. Por isso, a importância de se vacinar com as duas doses completas. Provavelmente, deveremos, ao longo do tempo, ter vacinações periódicas.
De uma hora para outra, todos ficamos especialistas em como funcionam os imunizantes e chega-se ao absurdo de escolher a vacina que se quer tomar. O senhor poderia nos falar sobre a eficácia de todas as vacinas hoje disponibilizadas no mundo e que estão sendo aplicada no País?
Marcos Caseiro – Um dos grandes problemas do momento, sem dúvida nenhuma, é essa ideia de ser sommelier de vacina. Isso é fruto do total desconhecimento e de uma onda negacionista. Os dados de eficácia de uma vacina, na vida real, mostram que todas elas são muito equivalentes na proteção. Temos exemplos dessa eficácia em países que imunizaram a população com tipos diferentes de vacina: no Chile, a proteção está sendo com a CoronaVac e a proteção chega a 70%; na Inglaterra, temos a imunização com as vacinas da Pfizer e da AstraZeneca, com proteção de 80%. Isso significa que são muito equivalentes. O que precisamos mesmo não é escolher a vacina, mas nos vacinarmos, com as duas doses para chegarmos à chamada “imunidade rebanho”.
É possível a vacina causar a Covid-19?
Marcos Caseiro – Nunca. Não temos a vacina com o vírus ativo. As vacinas contêm o vetor viral, que é o caso da AstraZeneca [Oxford]. Com o vírus inativado, a CoronaVac [Sinovac]. E com o RNA mensageiro [mRNA], que é a Pfizer. É absolutamente impossível desenvolver a doença por causa da vacina, repito porque essas vacinas não têm o vírus.
Por que temos de tomar as duas doses?
Marcos Caseiro – As duas doses são fundamentais. Após o décimo quarto dia da segunda dose, aumentamos os anticorpos no nosso organismo com proteção plena contra a Covid-19. Todavia, é importante ressaltar que mesmo com as duas doses, as pessoas não devem se sentir invulneráveis, porque temos variantes do vírus circulando e se propagando muito rapidamente. Para nos garantirmos precisamos chegar a 80% da população imunizada.
Mesmo com as duas doses já aplicadas, ainda precisamos continuar com os protocolos de segurança – como o uso de máscara facial, higiene pessoal reforçada, como a lavagem das mãos, não aglomeração etc.?
Marcos Caseiro – Enquanto tivermos a circulação e mutação do vírus, mortes ou casos graves da doença não podemos relaxar em nenhuma das proteções pessoais e sociais. Quando esse quadro for revertido, e o será apenas com a vacinação em massa, teremos a tranquilidade real para discutir todos esses protocolos em outro patamar.
Um processo muito lento de imunização ajuda a propagação de variantes do novo coronavírus?
Marcos Caseiro – Esse processo lento de vacinação, não tenho dúvida, acelera a disseminação do vírus e facilita a sua mutação com novas cepas do vírus. Hoje, temos entre 16% e 17% de toda a população brasileira [de mais de 214 milhões, segundo o Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística – IBGE] vacinadas com as duas doses. É muito pouco! Essa lentidão é decorrente do fato de não termos vacinas em quantidade suficiente, pois se tivéssemos já teríamos vacinado a população toda, sem sombra de dúvida.
Professor, o Brasil era um país eficiente em campanhas de vacinação. O senhor pode nos falar um pouco sobre essa história exitosa do País?
Marcos Caseiro – Temos o maior programa de vacinação do mundo. Temos dezesseis mil salas de vacinação, com pessoas treinadas e capacitadas. Vacinamos contra a gripe Influenza, todos os anos, 80 milhões de pessoas em dois meses. Ou seja, a população não está vacinada ainda porque não tem vacina, porque faltou planejamento. Se tivéssemos vacina já teríamos vacinado todo mundo há muito tempo. Isso é uma vergonha, não temos conseguido vacinar a nossa população por incompetência desse governo negacionista, que não negociou em tempo hábil essas vacinas.
Por fim, qual o recado o senhor gostaria de dar aos brasileiros e brasileiras?
Marcos Caseiro – O recado mais importante, neste momento, é só com a vacina que vamos poder voltar à normalidade. Então, faço um apelo para que as pessoas se vacinem com as duas doses para garantir a proteção plena.
História da vacina
Importante entendermos a história da vacina para sabermos como chegamos até aqui. O texto a seguir é da Fundação Oswaldo Cruz – Fiocruz. Leia e passe adiante. Povo informado fica protegido contra a desinformação.
As vacinas são substâncias biológicas introduzidas nos corpos das pessoas a fim de protegê-las de doenças. Ao ser introduzida no corpo, a vacina estimula o sistema imunológico humano a produzir os anticorpos necessários para evitar o desenvolvimento da doença caso a pessoa venha a ter contato com os vírus ou bactérias que são seus causadores. A aplicação de vacinas, em alguns casos, causa reações como febre, dor em torno do local da aplicação e dores musculares.
Quando as vacinas foram criadas
Os primeiros vestígios do uso de vacinas, com a introdução de versões atenuadas de vírus no corpo das pessoas, estão relacionados ao combate à varíola no século 10, na China. Em 1798, o termo “vacina” surgiu pela primeira vez, graças a uma experiência do médico e cientista inglês Edward Jenner. Ele ouviu relatos de que trabalhadores da zona rural não pegavam varíola, pois já haviam tido a varíola bovina, de menor impacto no corpo humano. Ele então introduziu os dois vírus em um garoto de oito anos e percebeu que o rumor tinha de fato uma base científica. A palavra vacina deriva justamente de Variolae vaccinae, nome científico dado à varíola bovina.
Em 1881, o cientista francês Louis Pasteur começou a desenvolver a segunda geração de vacinas, voltadas a combater a cólera aviária e o carbúnculo. A partir de então, as vacinas começaram a ser produzidas em massa e se tornaram um dos principais elementos para o combate a doenças no mundo.
Quem produz vacinas no Brasil
As vacinas distribuídas em postos de saúde são produzidas por laboratórios nacionais, internacionais ou por institutos especializados ligados ao poder público, como o Instituto Butantan (Governo do Estado de São Paulo) ou a Bio-Manguinhos (Fundação Oswaldo Cruz).
Programa Nacional de Imunizações
O Ministério da Saúde criou, em 1973, o Programa Nacional de Imunizações (PNI), desde então responsável por organizar a política de vacinação da população brasileira. Em 1980, o PNI organizou a primeira Campanha Nacional de Vacinação contra a poliomielite, com o objetivo de vacinar todas as crianças menores de cinco anos de idade em um único dia. O PNI também tem como meta a eliminação do sarampo e do tétano neonatal, além da redução da ocorrência de outras doenças como a difteria, coqueluche, tétano acidental, hepatite B, meningites, febre amarela, tuberculose, rubéola e caxumba.