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Abrilhantando a estreia do ABCP Entrevista, no canal da associação no YouTube, o geólogo Guilherme Estrella, considerado o “pai” do pré-sal, que dedicou sua vida profissional à Petrobrás, iniciando sua trajetória na empresa aos 23 anos de idade, em 8 de fevereiro de 1965 e se aposentando em 1994, falou sobre a importância da petrolífera para o desenvolvimento do Brasil e como a descoberta do pré-sal, em 2007, gerou uma campanha ainda maior de difamação contra a empresa.
Estrella se tornou diretor de Exploração e Produção da petroleira nacional, entre os anos 2003 e 2012, época da descoberta da reserva gigante do pré-sal em águas ultra profundas do País. Na entrevista, o petroleiro conta um pouco da história da empresa nesses 68 anos de vida da empresa.
Segundo o petroleiro, o Brasil é um país riquíssimo em recursos naturais, como minérios, rios com água potável, um grande produtor de oxigênio da atmosfera, de larga extensão territorial e de extrema relevância geopolítica no planeta que, no entanto, há muito tempo passa por problemas internos e historicamente está em desvantagem em relação a outros países, que hoje são potências econômicas.
Dentro de um contexto mais histórico, Estrella narrou que enquanto o Brasil era colônia de Portugal, países como Inglaterra, França, Bélgica, outros Estados germânios e os Estados Unidos construíram seus países a partir da primeira Revolução Industrial, acompanhando o Japão com reservas carboníferas – reserva de minério de carvão que poderá ser mineral ou vegetal.
Nesse período, o Brasil não tinha energia, passando o século XIX inteiro sendo um país escravagista, agrícola e sem nenhuma indústria. Já no final do século, os EUA descobrem o petróleo e com o lançamento dessa energia alcançam uma hegemonia global para o século XX, com muito investimento na indústria e benefícios, como avanço em ciências e tecnologias, criação de empregos e melhores qualificações. O país se torna mais poderoso no ponto de vista econômico.
Estrella observa que, no Brasil, a situação somente começará a mudar a partir da presidência de Getúlio Vargas, “que passou a olhar para a energia como um foco central em sua visão nacionalista, criando o Conselho Nacional de Petróleo. Já em 1953, Getúlio funda então cria a Petrobrás, ainda que tardiamente em relação aos demais países no mundo e, a consolida como empresa estatal”.
Rumo ao mar
Em 1968, já se analisava, explica Estrella, que as
bacias terrestres não poderiam mais suprir as necessidades de petróleo, “por
isso a Petrobrás parte rumo ao mar”. Estrella, à época, já atuava como geólogo
e pertenceu ao primeiro posto na plataforma continental. “Fizemos descobertas
logo nos primeiros seis meses, mostrando que a plataforma tinha um potencial muito
grande em termos de perspectivas petroleiras”, lembra.
Passados os anos, o País precisava de mais energia, ainda que com a ajuda das hidrelétricas e depois da energia nuclear. “Com a Bacia de Campos [bacia sedimentar situada na costa norte do estado do Rio de Janeiro, estendendo-se até o sul do estado do Espírito Santo], atingimos a autossuficiência, em 1996”, informa. Naquela época, segundo Estrella, foi quebrado o monopólio estatal da Petrobrás, com a justificativa que empresas estrangeiras viriam investir no País, “mas isso não ocorreu”.
Pré-sal e a soberania brasileira
No início dos anos 2000, a Petrobrás reassume seu protagonismo no Brasil e no
mundo. “As bacias brasileiras retomam a produção, bem como a pesquisa na bacia
de Santos, que na época estava abandonada. Em 2006, em um projeto na área de
exploração e perfuração, adaptaram tecnologias e descobriram o pré-sal na bacia
de Campos”, diz, orgulhoso.
Foi um grande desafio tecnológico em decorrência da profundidade de perfuração. O pré-sal vai se mostrar uma imensa reserva de petróleo. O Brasil, finalmente, poderia se ter uma base energética suficiente para sua industrialização soberana, independente, transformando o País. “O pré-sal teve um grande impacto para que construíssemos um país soberano, democrático e igualitário para todos os brasileiros. Isto porque o pré-sal não se restringe à parte energética, não está apenas ligado ao petróleo, ele também é rico em gás seco, que é usado na produção de eletricidade e fins domésticos, e matérias-primas de petroquímica e fertilizantes nitrogenados”, descreve o geólogo.
O pré-sal não só trouxe independência e soberania petroquímica, mas também em fertilizantes. Foi um produto descoberto por brasileiros, por uma empresa brasileira, tecnologia e conhecimento científico brasileiros, na Bacia de Santos – de Cabo Frio (RJ) até Santos (SP). Na sua visão, todo esse conjunto permitiu que o Brasil assumisse sua importância no cenário mundial, sendo um projeto completo de soberania nacional e desenvolvimento de vários setores no país.
Todavia, como lamenta, todo esse avanço gerou um ataque drástico de empresas e governos de outros países, que não admitiam que o Brasil se colocasse como uma força importante na geopolítica mundial do petróleo. “Infelizmente, a Petrobrás perdeu muito de sua finalidade que é o de servir nos mais diversos aspectos a quem ela pertence, o povo brasileiro”, pontua.
Mas Guilherme Estrella, como brasileiro e petroleiro que respeita o País e o povo brasileiro, deixa um recado para os petroleiros e todos os trabalhadores brasileiros: “Vamos continuar nossa luta. Vamos nos unir as outras categorias profissionais, de trabalhadores brasileiros e ao povo, a sociedade como um todo, para a gente recuperar o Brasil e a Petrobrás para os brasileiros.”