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O mais grave equívoco que vem sendo cometido desde 2015, no Brasil, tem sido tornar a Petrobrás uma mercadoria financeira. A crítica é do professor da Universidade Federal Fluminense (UFF), Marco Aurélio Cabral Pinto. “O maior equívoco do neoliberalismo econômico desde 2015 tem sido animar o mercado de balcão de ativos energéticos às custas da empresa de petróleo dos brasileiros. O país inteiro está pagando um preço alto por isso”, observa. Nesse sentido, o professor define como desacerto estratégico o aniquilamento do refino no País. “A Petrobrás, que vinha apostando em autossuficiência, está agora à mercê das importações de combustível”, lamenta. É um retrocesso, ressalta, ao dizer que a petrolífera nacional é fundamental para o desenvolvimento e a soberania do País e porque “petróleo é a mercadoria mais importante do mundo junto com o dinheiro”.
Atualmente, adverte ainda o professor, o Brasil está importando combustíveis porque o neoliberalismo aplicado à Petrobrás tem por resultante nos tornar inteiramente refém das decisões tomadas no topo da hierarquia do complexo petrolífero internacional. O professor define como absurdo essa condução política, “apesar do País ter um oceano de petróleo dentro do nosso mar territorial”.
Para piorar, como o dólar é a unidade de contas no comércio exterior brasileiro, passamos a importar inflação também. “O preço do petróleo internacional sobe e a gente aqui não tem capacidade de administrar os nossos preços internamente”, diz.
Como ele destaca, a Petrobrás forte significa economia forte também. Afirma ainda: “A Petrobrás não produz apenas petróleo; ela produz, em certo sentido, a capacidade do Brasil de construir a sua própria estabilidade econômica, com criação de empregos. Após 2015 houve revisão no plano de investimentos, com reduções expressivas em muitas áreas importantes. Mantido o plano de investimentos anterior, teríamos na atualidade sustentação significativa de empregos no Brasil. Então, ao mesmo tempo que a gente estaria controlando a inflação, o país poderia estar se beneficiando de poderoso indutor de demanda para a indústria, em meio à maior crise da história recente.”
Nesta perspectiva, Marco Aurélio
Cabral situa a recente troca de
comando na Petrobrás como reação
das elites brasileiras aos equívocos
que vêm sendo cometidos desde o
Golpe de 2015. Em síntese, segundo
o professor, “aparentemente, com
a volta antecipada dos democratas
ao poder nos EUA, os interesses
industriais no Brasil reuniram
condições políticas para afastar
da Petrobrás a vista curta das
finanças. Imediatismo tal, que
acabou por conspirar contra a
própria estabilidade do subsistema
econômico e político brasileiro.
A saída da Ford do país, neste
contexto, parece ter acendido um
alerta luminoso na cabeça da nossa
atrasada elite”.