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Para transformar nosso futuro, é fundamental
entendermos nosso passado e presente, e por isso o ABCP Informa esse mês começa
uma série de matérias sobre o movimento sindical, baseadas em uma entrevista
que fizemos com o educador popular e formador sindical Emilio Gennari.
Perguntado sobre o cenário do movimento sindical hoje, em outubro de 2020, Emílio diz que ele não se tornou inútil, como a mídia burguesa costuma dizer: “Parece que o sindicalismo não tem mais um papel, mas isso não é verdade. Enquanto houver exploração do trabalho assalariado, vai ter sindicato”.
O projeto das elites, no governo Bolsonaro, é que no Brasil a riqueza seja produzida por um trabalhador barato e super explorado: “O Estado na verdade se apresenta como um agente legalizador das formas predatórias de exploração de tudo, dos seres humanos, da natureza, do trabalho, eliminando qualquer tipo de direito e de proteção.” Essa investida vem se desenvolvendo desde o governo Temer, buscando não “um país que se modernize tecnologicamente, mas que se credencie em termos de produtividade, lucratividade, competitividade internacional por uma exploração violenta, então não é de estranhar toda a força que tem sido feita para minar as bases dos sindicatos”.
E para ele esse fenômeno não começou há pouco tempo, estamos colhendo hoje o resultado final de uma série de mudanças, a chamada reestruturação produtiva “que percorreu o final dos anos 80, toda a década de noventa e se cristalizou a partir inclusive do próprio governo Lula”, ou seja, avanço da informalidade, trabalhadores sem carteira assinada ou por conta própria, uma grande diferença de contratos, formas de remuneração, jornadas de trabalho.
São trabalhadores não protegidos pelos sindicatos, sobre os quais a ação sindical não tem efeito, e que no início do ano correspondiam a “57% dos ocupados. Isso significa que nós, do movimento sindical, falamos para 43% da classe, o resto, nós não temos nenhuma ação”. A palavra de ordem nenhum direito a menos não dialoga com quem já foi privado de tudo. O profissional PJ, que trabalha por hora, é o sonho do empresariado, segundo Emílio, e além de não ser sindicalizado, ele se entende como uma empresa.
Um exemplo desta reestruturação produtiva é o shopping center, onde podemos observar que “o capital concentrou sim um volume de pessoas que trabalham, mas também um punhado de obstáculos à sua organização em torno de uma pauta comum”. Soma-se a isso ainda o papel da terceirização e o da não reposição dos funcionários aposentados, falecidos, acidentados com sequelas graves.
O efeito disso é a diminuição do efetivo de cada categoria, e consequentemente da voz sindical e da eficácia de suas lutas. “Basta olhar para a Petrobrás, pra ver o crescente efetivo de terceirizados, mas isso vale para qualquer outro setor”, complementa.
Também se soma a essas alterações a Participação nos Lucros e Resultados, em que o trabalhador se sente um parceiro, o que reduz a conflitualidade no ambiente de trabalho, transformando a submissão forçada em adesão ativa, uma espécie de servidão voluntária, e as metas são pessoais na grande maioria dos casos.
E mais recentemente temos o teletrabalho, o trabalho remoto, que veio com a pandemia. Coisas importantes para o fortalecimento da luta da categoria, que acontecem no cotidiano do trabalho, como um pedido de ajuda, o enfrentamento a um assédio, o apoio na própria execução do trabalho já não são mais possíveis quando está cada um na sua casa. Nos próximos números, aprofundaremos um pouco mais essa conversa com Gennari. Se você gostou de ler essa matéria, ou se tem alguma crítica, entre em contato com nossos diretores ou nossas redes sociais e mande a sua opinião. Vamos pensar juntos como mudar essa situação! Traga mais gente para a nossa luta coletiva, porque só ela nos dará vitórias e um bom futuro!